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Publicado em 20/04/2021

Fertilizante: 2 milhões de hectares de lavouras já usam pó de rocha

É crescente no Brasil a adesão de produtores rurais a práticas de agricultura sustentável e econômica, que utilizam mais bioinsumos e organismos biológicos. Para melhorar a fertilidade das plantas e reduzir os custos de produção, milhares de agricultores do país passaram a usar os chamados remineralizadores de solo em diferentes tipos de plantios.

Especialistas apontam que este movimento tem possibilitado a busca por fontes naturais de nutrientes, como rochas e pedras, que contêm minerais com o potencial de recuperar solos em regiões mais áridas.

Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), estima-se que a área plantada no Brasil com os agrominerais já ultrapasse dois milhões de hectares. Só em Goiás, estado pioneiro no uso dos novos insumos, há registro de pelo menos 250 mil hectares plantados com adubação mineral ou biológica.

O objetivo dos produtores, principalmente pequenos e médios, é reduzir a dependência de insumos químicos de preço elevado e garantir a rentabilidade da lavoura. No entanto, a principal queixa deles é a baixa oferta de insumos nacionais eficientes no mercado. Cerca de 95% do cloreto de potássio, por exemplo, um dos fertilizantes mais utilizados no Brasil, são importados.

“A gente quer praticar uma agricultura que seja feita com insumos regionais, para que o dinheiro fique na região. Então, trabalhamos com pó de rocha, fosfato natural, plantas de cobertura da nossa natureza, algumas exóticas, que coloquem fertilidade no solo, e com os bioinsumos, que são bactérias, fungos, microorganismos eficientes para recolonizar o solo”, explica Rogério Vian, produtor rural de Mineiros, município do sudoeste de Goiás.

Vian preside o Grupo de Agricultura Sustentável, conhecido como GAS, que foi criado com o objetivo de mudar os paradigmas de produção agrícola e defender a liberdade dos produtores na escolha dos insumos considerando o contexto regional das propriedades.

Em parceria com a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), o grupo já mobiliza mais de 2.300 agricultores de todo o país que praticam diferentes métodos de adubação, manejos e buscam novos tipos de insumos de origem biológica.

Um dos remineralizadores ou agrominerais regionais que os produtores de Goiás têm priorizado é o pó de rocha, que pode ser aplicado diretamente no solo ou junto com fertilizantes solúveis convencionais.

“A gente recoloniza o solo e coloca biologia, que está sendo perdida com o alto uso de insumos. O pó de rocha reconstrói o solo, porque todo o solo foi formado por rocha, mas com o intemperismo de milhões de anos, o solo foi empobrecendo”, explica Vian.

Levantamento do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária em Goiás (Ifag) aponta que fertilizantes e defensivos compõem praticamente metade dos custos de produção da soja convencional, por exemplo. Nas últimas estimativas da instituição, a rentabilidade dos produtores de soja tem sido negativa, fato que tem gerado endividamento dos agricultores, segundo integrantes do setor.

“Os produtores não têm prazer em usar agrotóxicos. Então, a ideia do grupo de agricultura sustentável é levar uma ferramenta nova para o produtor para que ele possa produzir com um custo menor e no final produzir um alimento mais saudável”, destaca.

Sustentabilidade econômica e socioambiental



Um dos principais pesquisadores do tema, o agrogeólogo Eder Martins, que atua na Embrapa Cerrados, ressalta que o sistema alternativo de plantio traz efeitos diretos e indiretos para as plantações e representa uma solução viável para devolver a rentabilidade da agricultura.

“Todo esse movimento está ligado à sustentabilidade da atividade. A viabilidade da agricultura é uma questão crucial hoje. Na realidade, a agricultura sempre foi biológica, mas, ao longo do tempo foi sendo dada ênfase para os insumos químicos. Porém, existe exaustão tecnológica, e quando essa exaustão bate no bolso e não fecha as contas, significa que o modelo não está sendo viável”, ressalta.

Martins alerta que a agricultura baseada em insumos naturais pressupõe uso de fontes minerais de nutrientes, organismos biológicos para controle das pragas e plantas de cobertura para proteger e nutrir o solo, mas não substitui nem elimina os insumos convencionais, como fertilizantes ou defensivos químicos.

“Esse novo modelo é um tipo de agricultura biológica que não é incompatível com o modelo anterior, nem tem preconceito com os insumos tradicionais. Mas não é possível ter solução apenas por um aspecto, é preciso ter associação dos insumos. A gente ainda precisa dos agrotóxicos como uma das ferramentas. E a gente vai continuar utilizando fertilizantes, a diferença é que seremos mais econômicos”, explica Martins.

O especialista destaca que nas áreas onde há verticalização do processo produtivo de aves, por exemplo, os resíduos das agroindústrias, que são muito ricos em nutrientes e microorganismos benéficos para o solo, podem ser melhor aproveitados para fazer compostagem com os minerais de rochas.

“É a busca de sustentabilidade econômica e, neste processo, você vai encontrar também a sustentabilidade ambiental e social, porque vai se estimular o desenvolvimento de novas cadeias produtivas regionais e possibilitar que os recursos circulem nas próprias regiões agrícolas”, afirma.

De acordo com o especialista, os fertilizantes convencionais solúveis, geralmente feitos à base de nitrogênio, fósforo e potássio, têm eficiência baixa se não forem bem aplicados, e a composição com os minerais têm a vantagem de melhor aproveitamento dos nutrientes.

“Quando o processo é bem feito, a gente consegue utilizar efetivamente apenas 50% desses elementos. Temos resultados recentes mostrando que é possível ter aumento de produtividade quando você combina a fertilização solúvel com esses novos agrominerais”.


Fonte: Canal Rural